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setembro 14, 2002

BESTEIROL. OU NÃO.

Ontem teve outra festa na minha lista de escritores de contos de vampiros Tinta Rubra. Festa virtual, sabem? É assim: você sai do trabalho, vai até a casa de uma amiga que está meio deprimida, e, junto com uma outra amiga, não deixa que se deprima, embebedando-a com vinho e queijos... (Se bem que ela fez isso - o de se embriagar - sozinha...) Depois, lá pela meia-noite, chega em casa, liga o computador e fica trocando msgs até cinco da manhã... Claro, junto com um chat. Por isso, o meu sumiço. Deve ter rolado umas 100 mensagens na Tinta Rubra só na noite de ontem, e, com certeza, sempre vai ter alguém reclamando do número de mensagens na caixa postal. O que eles não entendem é que existe uma coerência nisso, não apenas um blá-blá de besteirol entre os participantes. Havia um ambiente ficcional, com personagens, cenários, conflitos, dramas e humor. Os participantes escreviam cenas ao vivo, participavam de diálogos, colocavam seus personagens em ação de improviso. E, o importante era o caráter de exercício mental, não o seu resultado. Embora, na minha opinião, dentro desse mix, houvessem verdadeiras pérolas criativas.

Na propaganda, falar besteiras sem compromisso é uma parte muitíssimo importante do processo criativo. Pois vejamos: você gasta muito tempo e cérebro pensando sobre o certo e o errado, o correto ou não, o adequado ou não. Às vezes dispendendo mais tempo e energia batendo e debatendo sobre as mesmas e repetitivas noções limitadoras, do que realmente criando algo, a maior parte de sua vida. E desprender-se desses elos é um passo importante para ser criativo. Chamamos isto de brainstorm. Deixamos momentaneamente de lado os "não-podes" e ficamos concentrados nos "e se...": "e se a Terra fosse amarela", "se Deus fosse uma lagartixa", "se as mulheres tivessem 3 seios", sei lá mais o que... Desse imenso caos nascem as idéias, que podem ser geniais. "Ou não."

Adoro os "ou não" do Caê, pois são o símbolo do não-comprometimento. E é tão importante como os "e se", pois significam também que nada do que é dito é absoluto. E não existe nada menos absoluto do que afirmar que algo sempre é, e vai ser, genial ou medíocre.

Pois então, voltando à propaganda e ao processo do besteirol: o grande caos deve ser minimamente controlado e de lá pinçadas as boas idéias. Dirigir a massa fervente em alguma direção. Dar um fim ao processo quando os resultados são bons. Essa visão geral, que viaja incessante entre o macro e o detalhe, está a cargo do diretor criativo. Coisa sofisticada, mas fácil para os verdadeiros profissionais. E tudo isso é um processo simples que você pode usar em qualquer coisa que faça: 1- desencanar, 2- pensar, 3- reconhecer as boas sacadas, 4- parar de elocubrar, senão você fica para sempre no caos. Divertido? Sim, é. Mas é difícil pra burro... E um ato de extrema sutileza.

Então, para quem participou ou vai ler as mensagens da Tinta Rubra, um conselho: deixem os "não-podes" trancados junto com os demais esqueletos do armário, cogitem (ergo sum) "e se" o tempo todo, e, tentem enxergar não apenas as besteiras mas as pérolas, que apenas os bons conseguem garimpar e trazer à tona. E não prestem muita atenção em conselhos, apenas ouçam. E depois julguem por si. Ou não.


setembro 12, 2002

MUTAÇÃO
Giulia Moon

Rumo ao finito a fluir...
Flores do mal a crescer sem perdão.
Milênios de inteligência ultrajante,
Uma eternidade a evoluir.

As bocas gritam a palavra vã
Que clama, pede, inclemente,
Por mais milagres malsãs.
Poder.
Prazer.
Dor.
O sinal, só um sinal!
E surge na mente do ser tacanho
O primeiro sonho estranho.
A primeira letra.
Um antigo prazer.

Num dia, vermes rastejantes,
Noutro, poderosos deuses do porvir.
Perseguição demente
Por mais milagres potentes.
Sementes
De dor.
Prazer.
Poder.
Da letra da mente.
Da potência da morte.

E o mundo recolhe-se à simplicidade primeira.
Flores do mal retornam aos pesadelos.
Minúsculos vermes sonham com uma nova era.
Extinta letra derradeira.

O resto?
Mero acidente natural,
Um milagre casual...


Ontem foi aniversário da Tita. Engraçado como nos conhecemos. Ela entrou em fevereiro de 2001 na Tinta Rubra, causando um certo rebuliço. Oba, sangue novo! E ainda por cima com mensagens bem-escritas, inteligentes, bem-humoradas... Dei as boas-vindas de praxe (coisa de moderadora) e fiquei na minha. Enquanto isso, Tita enviou alguns contos que me impressionaram profundamente. Caracas, a novata escrevia bem... Eu tinha acabado de voltar dos EUA e enviei para a lista um dos meus contos da vampira Maya, inspirada pela viagem: “Uma Vampira em New York”. Recebi uma análise primorosa de Tita. Nunca tinha lido na Tinta um comentário tão completo e exato. Impressionante, mais uma vez.

Começamos a trocar pvts. E ela me enviou o primeiro capítulo do Relações de Sangue, pedindo a minha opinião e recomendando sigilo absoluto. Fiquei maluca. Queria ler TUDO, não apenas um pedaço. Mas ela mandaria o seu livro pra uma desconhecida? Eu duvidava. Então tive uma idéia. Eu tenho um longo conto, ainda inédito, chamado “A Dama Branca”, e mandei para Tita a primeira parte. Será que ela iria gostar? Logo veio a resposta: viva, ela tinha gostado! Queria ler o resto. E, claro, eu só mandaria se ela me mandasse a continuação do livro... Então começamos uma troca de mensagens bem-humorada, uma instigando a outra a enviar as continuações, cada qual curiosa com a história da outra. Mas uma coisa me preocupava: o meu conto era muito mais curto do que o livro da Tita e logo eu perderia o poder da barganha... Então, a surpresa na caixa postal: ela tinha me mandado todo o livro, anexado na msg. Na mesma hora mandei o resto do meu conto para ela. O gesto dela significava, mais do que o evidente prazer que a leitura me proporcionaria, a certeza da confiança que ela depositara em mim. Quanto tempo nos conhecíamos? Uma semana... através da internet, sem nunca termos nos encontrado!

Ela me deixara o telefone na mensagem. Mandei o meu. Minutos depois, ela ligou. Algumas horas depois, estávamos a caminho de Campinas, com alguns amigos recém-descobertos da Tinta Rubra pra conhecer ao vivo Paulo Castro. Claro que foi um fim-de-semana inesquecível. E o fecho de ouro foi dado no domingo, pelo motorista do táxi que nos trouxe da rodoviária. Após deixarmos Tita em sua casa, ele comentou casualmente, naquele papo de taxista: “puxa, que legal, vocês são tão amigas! Conhecem-se há muito tempo, né?” E eu: “Há dois dias, pessoalmente.” Ele olhou, incrédulo, e ficou mudo.

Parabéns, Tita, um pouco atrasado. Vai daqui um presentinho. Eu que fiz, tia...



setembro 10, 2002

Return to Innocence. Mantra de uma viagem vertiginosa, rumo ao vento, rumo à nudez total, de alma e pensamento, livre de caras, taras, minimalismo da mente solta, irresponsável e sem descanso. Voltar à infância desfocada, esvaída em cantos antigos, matéria que não existe a não ser na sua cabeça que esquece, que esquece, que esquece... E tudo vai se perdendo na memória, incapaz de reter as melhores coisas da nossa vida. A mão de alguém sobre a pele, as sensações da primeira vez, de quando alguém disse que era veludo o seu sexo e que a sua saliva tinha sabor de groselhas. Fotografias desbotadas que vão sumindo com o tempo, pessoas que vão embora, sentimentos que vão perdendo o encanto, razões que vão perdendo a razão de ser. Medos e dúvidas e doces esperanças e o cheiro de proibido das primeiras preliminares. Return to innocence. Volta possível, manca e cega, à imitação do que era, o momento que não existe mais é o mais belo das lembranças esquecidas. Voltei pra casa. E não tinha ninguém.



CRIANÇAS, CRIANÇAS...

Não resisti e voltei para colocar isto. Achei esta foto entre os raros registros da minha infância. Eu sou essa trouxinha gordinha sobre a cadeira, com a minha avó e a minha irmã Elza. Não se espantem, todas as crianças japonesas têm essa cara de anjinhos enquanto são pequeninos. Depois, tornam-se sanguinários líderes de seitas lunáticas.

Ei, que caras de fome são essas? Parem de salivar, essa criança gordinha não é pro bico de vocês...

LINKANDO, ATENÇÃO!

Pra quem não percebeu, vamos lá: tem links novos aí, ao lado. Em Páginas Sangrentas, Vampire Bookshelf do vampeixe Tetsuo, provando que, além de ser o prato preferido de cem entre dez vampiras famintas, Tetsuo é um ótimo escritor. Sanktuarium, página da Engel, escritora, poeta, imprecadora e webmistress do blog Adorável Noite e participante da Tinta Rubra. Juan Carlos Cisneros é um artista plástico salvadorenho que já morou em Porto Alegre. Indicação da Van, em quem sempre confio para me surpreender. Não percam a série de desenhos "buracos", tão instigante quanto o nome e uma amostra de como a criatividade pode ser exercida com simplicidade e muita beleza. Visitem!

Nos blogs, atenção para Carlflash e N!tro. Carl tem muito bom-humor e informação no blog e N!tro escreve e poeta no blog e na Tinta Rubra. E por falar na Tinta, linkei também as duas vampirinhas Melpominee, com o seu Theatre of The Tragedy e Samantha Turci, com Dawn of Sorrow.

Bem, divirtam-se e sonhem. Ou tenham pesadelos divertidos. Amanhã nos falamos...

setembro 08, 2002

Oi, ocupada... Desde ontem, trabalhando aqui, no escritório, e pensando em proclamar a minha independência financeira. Independência ou morte! Se fosse tão fácil, não é? Mas a minha independência fica acorrentada a uma mísera impressora que não imprime as cores necessárias. Por que um mesmo arquivo, que saía pela bandeja da HP de forma tão linda, capaz de fascinar qualquer cliente chato e diretor de arte mais ainda, de ontem pra hoje se tornou uma imagem com cor de diarréia? Estou prevendo uma pequena tragédia se delineando para a manhã de segunda... Oh-oh...

De manhã, com a minha mãe, dona Rosinha:
"Mãe, você precisa caminhar de manhã, Dr. Dirceu já falou..."
"Mas eu tenho preguiça de acordar."
"Mãe, pare de dormir às 3 da madrugada e acordar às 11. Dorme mais cedo, acorda mais cedo e dá uma caminhadinha..."
"Hã-hã."
"Mãe, depois vai ficar doente e nem quero saber, hein?"
"Humpft... você toma mais remédios do que eu."
Mães, eternas mal-agradecidas!

Quero ver o Smiling Paulito! O nosso amigo raspou carequinha a sua grande e cheia cabeça pensante. Achei o maior barato, de vez em quando precisamos tomar alguma atitude que balance, mesmo que de leve, o correr da carruagem das nossas vidas. Imagino o Doc impondo a sua cabeça redonda pra todos. As mulheres gritando, as crianças correndo, velhinhas fazendo sinal-da-cruz! Bad boy... Viva a liberdade de sermos feios, se quisermos! O duro é ser feio sem querer...

Voltarei, agora, à maldita impressora. Até mais, crianças...


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