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outubro 19, 2002

HOMENS FEIOS – QUE DELÍCIA!

Quero hoje falar de homens feios. Feios? Não são feios, na verdade, são homens que não trazem estampada aquela beleza perfeita, a beleza das passarelas e dos posters de armário de dez entre dez teens de qualquer lugar do mundo. Não têm grandes olhos azuis, os traços perfeitos e regulares, o corpo malhado. As roupas não lhes caem como se fossem feitas sob medida, os cabelos parecem sempre dispostos a contrariar a direção apropriada. Têm narizes - e que narizes! Têm entradas no cabelo. São baixos demais, altos demais, magros demais, gordos demais. São tantos por aí, nas casas vizinhas, no escritório, nas lojas, nas ruas, que não os percebemos, assim como não percebemos a maioria das coisas que se escondem sob a superfície fácil e visível. Mas são todos homens encantadores, maravilhosos, perfeitos em alguns momentos, quando nos dirigem o seu olhar e nos vêem. Sim, nos enxergam. Não com paixão. Não com gratidão. Não com tesão. Mas com tudo isso, mais uma enorme compreensão de como poderemos ser complexas, grandes e infinitas sob o olhar certo. Quando eles nos olham, tudo ao redor pára. Os seus olhos engolem tudo, compreendem tudo, sentem tudo. O mundo fica imenso, infinito nesse instante.

Hoje quero exibir imagens de homens feios, homens maravilhosos, homens diferentes. Vou deixar aqui três atores excepcionais do cinema sensível, que se distinguiram na mídia em meio a tantos bonitões descartáveis. Observem os olhos desses homens. Verão um mundo maior e mais interessante para ser vivido.


Joaquim de Almeida é o ótimo ator português que já participou de vários filmes de Hollywood, como "Desperado" com Antônio Banderas, geralmente fazendo o papel de vilão latino. Mas quem quiser vê-lo em papéis sensíveis, assista "Bom Dia, Babilônia" dos irmãos Taviani e "O Rei Pasmado e a Rainha Nua" de Imanol Uribe. Ele está demais! Ah, ele é também o Sherlock Holmes do filme brasileiro "O Xangô de Baker Street", baseado no livro de Jô Soares.


Stephen Rea, ator irlandês, que fez uma pontinha como o vampiro Santiago em "Entrevista com o Vampiro", mas que se consagrou como ator-emblema de Neil Jordan, diretor irlandês excepcional, em outros ótimos filmes como "A Companhia dos Lobos" e "Traídos pelo Desejo", quando concorreu ao Oscar pela sua atuação.


Daniel Auteuil é baixinho, tem uma voz esganiçada e, bem, sentiram o poder do seu nariz? Mas ele transforma-se em verdadeiro anjo ou demônio quando aparece na tela. Um gigante entre gigantes como Yves Montand, Gérard Depardieu e Philippe Noiret, o baixinho Auteuil faz misérias com o seu talento, tanto em papéis dramáticos quanto na comédia. Pra quem não sabe o que está perdendo, veja Auteil em filmes como "Rainha Margot", "Jean de Florette" e "Manon des Sources". Para quem já o conhece, recomendo um filminho despretensioso mas hilariante: "Ma vie est un enfer", em que ele atua como um diabo, sim, um diabo alopradíssimo, que inferniza a vida de uma gordinha deprimida.


outubro 16, 2002

Olá! Resolvi, finalmente, postar aqui o conto que escrevi na segunda-feira. A personagem Gertrudes nasceu num conto de finais alternativos do grupo Tinta Rubra, um exercício onde um escritor inicia um conto e outros escritores o terminam. E ela surgiu em função do início escrito por Paulo Castro. Este conto não é o original, escrito em parceria com Paulito. É um reaparecimento de Gê, a doutora-monstro. Vocês vão ver... Então, lá vai Gertrudes. Espero que gostem.

GERTRUDES, O MONSTRO
Giulia Moon

Voltando de profundis, Gertrudes, o monstro. Não espero que se lembre do porquê do meu caso grave de monstruosidade - adquirida recentemente - e que me faz falar pelos cotovelos, pescoço, peito, barriga e todos os nomes daquela região púbica que suas mentes podres já se encarregaram de imaginar. Sim, queridinho, quem fala ou escreve não precisa ser sacana se tiver interlocutores sacanas. Você puxa uma cordinha e o resto vem sozinho. Entende o que digo, não é? Sei que sim. O caso é que tenho bocas. Milhares. Milhões. Pelo corpo todo, pequenas monstruosidades inquietas e incômodas. Cancros sobre a carne, mexendo, vibrando, coçando e doendo. Presentinhos de Mac, um filha da puta que me fodeu, um pústula nojento que me transmitiu essa merda e depois saiu fora. Machos escrotões. Fodem e depois somem... a mesma história de sempre. Embora tenha certeza que, em matéria de doença venérea, Mac, o escrotão, esteja disparado em primeiro lugar e não vai ser ameaçado durante o próximo milênio. Entende agora a minha irritação? Eterna TPM incômoda, mal-estar constante e saco explodindo, eis a minha vida com o corpo coberto por essas coisinhas falantes que nunca dormem.

Quem sou eu? Eu era uma doutora cinqüentona formada na USP e agora sou uma monstruosidade cinqüentona deformada... Hahahaha. Lembra dos trocadilhos? Continuam os mesmos. Só que agora cada um deles vem acompanhado de um corinho baixo e insistente de risinhos sádicos. Vantagem número um da monstruosidade: você vai ter sempre à mão um milhão de boquinhas obedientes pra rir de suas piadas.

Você não está acreditando ainda, não é? Então vou ser explícita, meu senhor, minha senhora e GLS afins: Gertrudes, aqui, tá fudida. Virou um monstro. Mons-tro! Um bichão medonho com um porrilhão de bocas sobre o corpo, uma coisa enorme e asquerosa que tem muita fome! Falei fome? Ah, sim, é isso, pessoal. As minhas pequeninas, aqui, querem algo pra mastigar... Não se preocupem, posso pagar. Recebo uma grana preta dos laboratórios pra me manter assim, saudável doente terminal. Ah, a vantagem número dois: tem sempre uns escrotos cheios de grana interessados em te dar dinheiro fácil em troca de alguma coisa sem importância. Sua identidade e aparência humana, por exemplo.

Voltando: sou reserva de Mac, o fodedor. Ele tá lá com eles, dos labs, doando seu sangue contaminado para as experiências. Se Mac bater as botas, eu tomo o lugar dele. Mas vai ser difícil, o verme tem uma capacidade regenerativa que nunca vi. Cortam, furam, esmagam e a carne, os ossos e – as bocas – voltam. Sempre! Monstros, sim. Quer uma monstruosidade maior do que a existência ad nauseam? E sabem de outra? Ouvi dizer que já encontraram a cura pra esta desgraceira, mas a droga ainda não tem perspectiva de ser liberada para fabricação. Sabem como é, não existem muitos monstros por aí e as vendas seriam baixas. Enquanto isso, liberaram a contaminação. É isso aí. Posso passar esta peste pra quem quiser. Quanto mais, melhor. Estamos formando um mercado, entenderam? Vantagem número três: sexo promíscuo total liberado. Vai aí?

Eu aqui, falando, falando, e nada de você me oferecer algo pra matar a fome. Pago, já falei. Não estou querendo boca livre. É isso mesmo, outro trocadilho. Ouviu os risos? São as minhas crianças... Famintas e vorazes. Estão pedindo, amoreco, estão clamando por alimento. Querem fazer uma boquinha urgente. Hehe... Mais risos, ouviu? Não, queridinho, não precisa fugir. Não somos canibais. Ainda. Entenda o significado profundo das minhas palavras. Canibal – aquele que come os da mesma espécie – no caso, monstro que come monstro. Agora vou repetir: não somos canibais. Você não é um monstro? Engano seu. Porque vou agora mesmo te foder. Contaminação é tudo, meu bem. Você será um monstro daqui a poucos instantes, igualzinho à Gertrudes, aqui. Não fuja, garoto, não adianta. Relaxe e goze, pois não foram poucos os que me disseram que foi a melhor foda de suas vidinhas monótonas. Quanto à comida... Aquele labrador, ali, é seu? Um monstro é um monstro é um monstro é um monstro...

FIM
Mac, o monstro, é uma criação de Paulo Castro.

outubro 15, 2002


Putz, eu devia estar dormindo, amanhã vou estar um trapo. De novo. Estive escrevendo um outro conto com Gertrudes, a personagem do conto-conjunto com Paulo. Pensei em postar aqui, mas vai ficar muito comprido, por isso vou mandar pra Tinta Rubra e depois pra minha lista de leitores. Estava com uma vontade enorme de escrever algo, mas andava sem inspiração até pra postar no blog. Muito trabalho e falta de idéias, mesmo. Depois do final da fábula que escrevi no post anterior, parece que a coisa desencantou um pouquinho. E, após ler um conto - muito bom, por sinal - que Tita (Martha Argel) terminou hoje, fiquei com mais vontade ainda de escrever. E aí, sentei aqui e o conto saiu. Chama-se "Gertrudes, o monstro" e é bem diferente dos meus contos habituais. Vamos dizer que tem um quê de Paulo Castro, já que é uma personagem que tem tudo a ver com ele. Talvez eu coloque aqui depois. Então é isso. Hoje, este post foi também pra dizer que vocês fazem o show por aqui. Comentários engraçados, inteligentes, sensíveis que fazem a gente ficar com vergonha de não escrever algo, pelo menos para manter o trem andando. Vocês são o que tem de melhor por aqui!

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