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maio 30, 2003

Olá, vocês vão ficar sem as imagens do blog, até eu encontrar uma forma de colocá-las de novo, ok? Por enquanto, vou postar alguns microcontos que escrevi há algum tempo. Tenham um bom fim de semana!

AS CASAS
Giulia Moon


Sonhos de Valsa

Música soando na sala vazia. Um disco de vinil roda, a canção logo vai terminar. Ninguém virá trocar o disco. Ele ficará rodando, rodando... Como roda a jovem dama de vestido de baile, o corpo pendendo como um lustre cintilante do teto. Beleza morta, fim de um amor impossível... Drama de tempos atrás. Reflexos que você pode vislumbrar, por breves instantes, no grande espelho da parede. Ecos solitários na noite da mansão assombrada...


A Casa Amarela

Sombras de salgueiro, finos fios a cobrir a varanda. Risos e brincadeiras infantis gravados como tatuagens nas paredes descascadas. O portão que range, o ferro da dobradiça quebrada adquirindo o tom da terra molhada. Ali, um esqueleto: as varetas de uma pipa há muito desfolhada pelo tempo. A aranha tece a sua teia, atando a cadeira de vime aos restos da trepadeira. Crescem saudades das flores lilases que perfumavam o ar nos bons tempos. Uma perna de boneca de plástico se mostra num raro canto sem mato. Uma roda de bicicleta também. O sol se põe sobre a velha casa amarela. Ela fica num canto obscuro da minha memória.


Um Jardim em Você

Areia sobre meus olhos. E terra, grama, flores... Gosto de bichos andando sobre meu corpo. Minhocas e formigas escavando minhas entranhas, besouros construindo as tocas de seus filhotes vorazes nas minhas carnes. Minúsculas atividades incessantes. Ruídos são vida. Movimento. Transformação. A morte, o silêncio absoluto. A paz que não desejo. Quero viver eternamente envolvida nesta terra molhada. Quero viver para sempre nas formigas, nos besouros, nas flores. Em você, em você, em você...


Relógio de Parede

Tic-tac, tic-tac, sozinha no sótão.
Tic-tac, tic-tac, o meu amor já vem.
Tic-tac, tic-tac, ouço seus passos na escada.
Tic-tac, tic-tac, vem, meu amor.
Tic-tac, tic-tac, através do tempo.
Tic-tac, tic-tac, diga que voltou só para mim.
Tic-tac, tic-tac, mas você não é o meu amor!
Tic-tac, tic-tac, e nem pode me enxergar.
Tic-tac, tic-tac, um rápido empurrão na escada.
Tic-tac, tic-tac, você quica nos degraus.
Tic-tac, tic-tac, fica no chão, numa posição estranha.
Tic-tac, tic-tac, eu volto ao sótão, meu refúgio.
Tic-tac, tic-tac, e a espera recomeça.
Tic-tac, tic-tac, sempre ouvindo o
Tic-tac...


maio 26, 2003

PAULO CASTRO ESTEVE AQUI!

E não tirei nenhuma foto... chuif. Mas não faz mal, espero que ele venha mais freqüentemente de agora em diante. Paulo é um escritor que consegue ser maldito e amado com a mesma desenvoltura com que escreve seus textos da literatura corporal. E se ele já desperta todas essas emoções no nosso círculo ainda restrito, o que será dele quando for rico e famoso? Tsc, tsc... Brincadeiras à parte, visitem, se ainda houver alguém que não o fez, o blog do terrível Doc Castro, clicando no link aí em cima ou aí do lado. Não vão se entediar. Certeza absoluta!

Bom, escrevi um texto da Gertrudes, a minha monstra predileta. Foi para responder a um texto do Panqui, um cara bem talentoso da Tinta Rubra, CryaContos, etc. Vou colocar aqui para vocês em homenagem ao Paulito. Divirtam-se e tenham uma boa semana!

VOLIÇÃO VAGINAL
(GERTRUDES RUGE).

Giulia Moon

Olá, garoto. Aqui, Gertrudes, câmbio, engata e tal. Tava à toa na vida e alguma coisa me expulsou do limbo. Acho que foi a palavra punheta na sua mensagem. Ou teria sido puteiro? Ah, sim, agora sei: foi fuder. É, fico assim ultimamente. Na minha vida P.M. Não. Não é demonstrativo de tarde gringado nos horários de relógios movidos a dólares punhetados. (P.M. = Pós-Monstro. Ou Pós-Monstruação. Ou Pós-Mortem, o que dá no mesmo). Depois que virei monstro, é assim. Dois ou três dias de vida e um mês de limbo. Ou mais. Ser monstro é, como direi, estafante, entende? Claro que não.

Mas vejamos: depois que tudo começou, como você bem disse, com uma foda, a minha vida mudou. Antes: professora de meia-idade, por fora poncho-e-conga , por dentro, furor vaginal. Pós-sexo letal com um animal chamado Mac, transformada com louvor nesta monstruosidade que vos fala. Mil bocas pelo corpinho, todas elas indecentemente engolindo e vomitando coisas que papai-mamãe nem sonham... Tudo isso graças a - voltamos à questão - à foda.

Não podia ficar sem me manifestar sobre esse assunto tão familiar. Porque como você constatou, garoto, lindinho, inteligente e sábio: tudo é movido à foderosa energia sexual. Fodas criam monstros. Monstros criam novas fodas. O eterno ciclo vital. E por foda entenda-se toda relação de dar e tomar, trocar e devolver, vampirizar, erotizar, desrecalcar, que seja. Mac, o escrotão, me deu isto, uma sobrevida de verme com um corpo em que cada centímetro virou uma porta de entrada e saída, atalhos para uma foda constante em todos os sentidos. Não é á toa que a expressão COMER tem essa serventia múltipla. E, no seu texto, lindinho, há além de tudo, a palavra mais mimosa que já encontrei ligada à nossa velha foda: COGNIÇÃO. Que é irmã de VOLIÇÃO. Que é, afinal, o que resta. Ou não.

Como quando chego a você através da web, desvirtuando, remexendo, comendo o seu texto e vomitando outro. E as bocas apenas riem, riem... Na falta do que mastigar. Na falta do ato supremo que inicia tudo. De novo. A foda primal que cria monstros. Mas agora que despertei, queridinho, gostosinho, não vou perder essa viagem trash. Crescei e multiplicai, li no outro texto ali em cima. Então, é isso. Estou saindo. Estou chegando. Estou aqui, ali, aí. Por que será que as pragas e pestes são muito mais facilmente multiplicáveis? Haverá fato mais interessante do ponto de vista biológico? Analise isto, baby. E buuuu pra você!


Mac, o monstro, é um personagem criado pelo Dr. Paulo Castro.


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