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junho 03, 2003



ACHAR OU NÃO ACHAR
(OU COMO FAZER UM RÓTULO MIAR)



Ei, lembram do rótulo de cachaça que eu criei? Não vai mais sair. Já finalizado e aprovado, devidamente elogiado e babado pelos clientes, colegas, amigos e sócios, simplesmente não vai mais sair porque uma pessoa – que tem o poder de veto na empresa fabricante – achou que não estava na hora de investir na mudança do rótulo. Embora o rótulo anterior seja inadequado, tanto para o público quanto para a estratégia de marketing do produto, e, apesar da mudança ser fruto de um planejamento discutido a fundo entre os representantes do cliente e agência. Todo um trabalho sério é deixado de lado por um repente de “achismo” de uma só pessoa.

E o Brasil inteiro move-se através de “achismos”. Eu acho o fulano genial, tudo o que o cara fala vira lei. Ele, por sua vez, acha o ciclano um bosta, então tudo que faz vira excrescência. Os bostas idolatram um outro sujeito, então, como aqui a quantidade costuma suplantar a qualidade – e há muito mais mediocridade do que genialidade - o tal sujeito passa a ser cultuado por toda uma massa amorfa que nada sabe sobre o sujeito ou sobre o que faz. E assim vão se formando os mitos, as celebridades, os procedimentos sem método, as cascas vazias onde construímos nossos alicerces.

O “achismo” brasileiro é mais prejudicial porque não resulta de lógica racional, mas de um “chute” baseado no famoso e incompreensível “faro”. Todos os que usam o termo “eu acho”, deveriam substitui-lo por “eu sinto”.

Eu sinto que precisamos investir nessa montanha na lua.
Eu sinto que esse sujeito alemão de bigodinho vai ser um grande humanista.
Eu sinto que vamos vender muita geladeira no Pólo Norte.
Eu sinto que esses políticos vão mudar.

Pelo menos pararíamos de cometer um outro erro feio, que é o de utilizar palavras sem atentar para o verdadeiro significado delas. Vocês, que adoram “achar”... Não estão achando nada, meus caros. Vocês estão apostando alto em algo que nasceu de um repente emocional.

Voltando à cachaça. Eu deveria estar chutando latas de lixo de raiva, pelo menos conheço uma dúzia de amigos que estariam por muito menos. Mas sabe o que aconteceu? Ao fazer o balanço das mudanças exigidas pelo cliente, começamos a perceber que todas as idéias e inovações sobre o produto foram expurgadas. O que restou: exatamente aquilo que ele tinha antes. Nessas e outras, o que miou, mesmo, foi a oportunidade de fazer algo pelo seu produto e investir bem essa grana que ele está gastando. Trocando seis por meia-dúzia, ele deixou evidente exatamente o que o produto tem de errado: ele mesmo. E nesse universo de achismos, miados e cachaça, acho que posso dizer com propriedade:

“Eu acho que vi um lindo gatinho...”

Stephen manda beijos no Piu-Piu.


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