< <$BlogRSDUrl$>

maio 12, 2004



ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA
Giulia Moon


Ele era paciente. Mas pessimista. Apesar disso, iria assistir a mais um filme de horror. Gostava de filmes de horror, e daí? A única coisa que não gostava era de idéias pré-concebidas. Não era gótico nem nada assim. Embora todo mundo insistisse em enquadrá-lo num rótulo ou no outro. Já estava cansado disso. E mais ainda desses filmes comerciais que tratavam o universo fantástico como se o mistério, o terror, o medo do desconhecido pudessem obedecer a regras medíocres. A estereótipos. Entrou na sala de exibição por último, no escurinho, com o filme começado.

Passou. Duas horas de lugar-comum. De cenas previsíveis. Tolas como essa expressão: "previsível", palavra utilizada ad nauseam pelos que não tinham vocabulário nem idéias para argumentar com fundamento. Algumas cenas eram arremedos de algo que conhecia muitíssimo bem. Afinal, fora ele mesmo quem as criara. Seres emparedados, cadáveres insepultos, mesmianismo pos-mortem, animais sinistros. Ficou ali, divagando, enquanto os créditos fechavam mais uma sessão de cinema. O público deixou a sala aos poucos. As portas foram trancadas. Na escuridão total, ele coçou o bigode antiquado e sorriu. Pensou, por um instante, ouvir um grasnar longínquo. Talvez ecos tristes de outros umbrais... E, mestre supremo da noite, olhou, altivo, para a tela vazia. E murmurou, um pouco melancólico e um tanto saudoso, antes de desaparecer suavemente:

- Nunca mais...

This page is powered by Blogger. Isn't yours?