PRESENTE DE VALENTINE'S DAY!

Oi, amigos!
Considerando que o Dia dos Namorados no Brasil foi uma invenção do publicitário João Dória para aumentar as vendas de um magazine, acho que não faz mal comemorar o Valentine's Day, o dia dedicado aos namorados na Europa e nos EUA, que é hoje, dia 14. Escrevi o texto abaixo para alguém especial, e é um prazer compartilhá-lo com todos vocês. Divirtam-se e feliz Valentine's Day!

Beigius.
Giulia.


Sexta-Feira 13

Giulia Moon

Sabem o que acontece numa sexta-feira 13? Vou lhes contar. Formada, adulta, publicitária, escritora de terror, vacinada contra simpatias, mau-olhados e os malefícios mais assustadores da ficção apavorante, eu não tinha o que temer dessa data. Muito pelo contrário, eu costumava eleger o número 13 como a minha favorita.

Foi assim que, quando o dia 13 de fevereiro caiu numa sexta-feira, não hesitei em aceitar a oferta de Cíntia, amiga e "fã-nática" de literatura de terror, para comemorar o meu aniversário junto com o dela, nesse dia. Na verdade, o meu aniversário é no dia 10, mas como perder a oportunidade de festejar numa sexta-feira 13?

Além disso, eu estava profundamente interessada nos dotes culinários da Cíntia, que prometera preparar o nosso bolo de aniversário. Marcamos a festa no DJClub, um local para dançar freqüentado pela moçada gótica em alguns eventos. Sexta 13, a partir das 23 horas – perfeito! No dia, Cíntia não decepcionou. Ao invés de um, dois bolos enormes surgiram. O primeiro, infernal, era um monumento ao chocolate. O outro era de merengue, uma bela nuvem branca celestial salpicada de morangos suculentos. Céu e inferno, numa combinação maravilhosa.

Bolos, convidados, uma noite gostosa. Entretida com os amigos e conhecidos, mal dei atenção a um sujeito que conhecera através de um grupo de discussão da internet e que aparecera por ali meio de surpresa. Logo de cara, quando li suas mensagens no grupo, ele me parecera excessivamente nerd para as minhas preferências mundanas de publicitária e escritora. Na verdade, deletava as suas mensagens sem ler, pois eu sofria de uma escassez crônica de tempo. Perguntei no que trabalhava para começar o papo e ele me disse: "sou computólogo". Ok, isso ia dar trabalho... Chamei Mônica, amiga e também parte do grupo da internet para me socorrer e papear com ele, e lá fui eu receber os demais convidados. Assim, ao vivo, ele era bonitão, mas decididamente não era o meu tipo. Talvez um futuro amigo, pois já tinha mesmo uma gama bem variada de amizades inusitadas. A festa encheu-se de rostos que não via há tempos. O DJClub não estava muito cheio, o canto que escolhemos, perto do bar, era bem aconchegante. Fotos e conversas. O nerd comigo e com Mônica, posando para a foto. O cara com a mão na minha cabeça, num gesto estranho. Desajeitado, não é? Eu achei. Mas tudo bem, tudo era maravilhoso, eu estava para lançar o meu segundo livro de contos numa editora legal e com distribuição nacional. Contei a novidade para os meus amigos ali, reunidos. Palmas, parabéns, eu estava toda feliz. Os bolos chegaram e foram devorados antes que alguém tivesse tempo de dizer "transilvânia". Vi o nerd bonitão conversando com Bila, outra amiga solteiríssima, quem sabe eles se entendiam? E ele tinha barriga, eu vi, sob a camiseta preta. Lá pelas três, ele veio se despedir. Mas já? Que pena! Beijinhos e tchau. Mais conversas, risadas, papos sobre vampiros, sobre internet, sobre amizades que se formavam e se iam. Madrugada, dia amanhecendo, despedidas, cansaço. Foi assim que terminou a minha sexta-feira 13, que não trouxe nenhuma anormalidade, a não ser uma festa ótima e divertida.

Hoje faz exatamente um ano após aquele dia. A sexta-feira 13 deixou seqüelas que eu jamais imaginaria. O nerd adquiriu um nome: Roberto. Ele, embora continue a rir e a negar essa condição, continua mais nerd do que nunca. Com uma grande diferença: ele é o meu nerd. Enviou no dia do meu aniversário uma poesia brincando com as letras do meu nome, escritas num inglês que até os ingleses consultariam o dicionário para entenderem. Quer escrever um texto com palavras "palindromas" – não, não vou explicar aqui o que são... E também não explicarei o significado das frases "enantiomorfas", que ele quer usar.

Direi apenas que o meu nerd já me explicou tudo isso, como me explica sobre tantas coisas curiosas, interessantes e ininteligíveis de seu vasto mundo não-assombrado pelos demônios. Embora se entedie até a raiz dos seus potentes neurônios, ele concorda em me acompanhar nas noites de autógrafos, aventurando-se pelas festas góticas, bocejando e às vezes cochilando enquanto espera a sua vampira voltar para os seus braços. Cozinha como um anjo, apaziguando a minha sede de sangue com pratos japoneses, espaguetes maravilhosos, cozidos condimentados e doces açucarados de amor. Com paciência, oferece o seu pescoço macio para esta vampira morder, fungar e se recarregar de energia para enfrentar o mundo. E, mais do que tudo, existe a sensação sem igual do contato da pele, da sua respiração junto à minha, o seu cheiro delicioso, do qual, como uma adolescente, morro de saudades quando ele não está. Adormecido, ele encosta o seu corpo ao meu, aquecendo os meus pés gelados com os seus. Continua a colocar a mão na minha cabeça, porque diz que os meus cabelos são macios, coisa que descobriu naquela primeira sexta-feira. Já passamos por pequenas crises, situações cômicas e tensas, mas sempre acabamos rindo ao final. Ele, para mim, é perfeito na sua imperfeição.

O futuro? Não sei. Quem pode saber? Mas, hoje, eu quero falar deste pedacinho recente do passado. Hoje, um ano após aquela sexta-feira 13, eu sei. Coisas espantosas costumam acontecer numa data como aquela. Gatos pretos, maldições, sustos e gritos. Conversas, risadas, comemorações de aniversários. Em meio a tudo isso, escritoras de terror podem se transformar em – argh! – princesas. E um nerd se tornar um príncipe encantado de barriguinha saliente e olhos sonhadores. Por isso, cuidado com sextas-feiras 13, crianças. Jamais percam um!

Para Roberto Melfra.
13 de fevereiro de 2005.